terça-feira, 29 de julho de 2014

Os maus chefes

Acho que nunca, em tantos anos da minha vida profissional, assisti a uma onda de chefes tão maus como a que assisto actualmente. Podem ser profissionais muito bons nas suas áreas de actuação, aliás, muitos deles com provas dadas e reconhecidas. Mas quando lhes passam para as mãos funções de gestão a coisa desmorona-se. São muito poucochinhos, muito incapazes e confundem as funções de quem está lá para os assessorar. Porque é disso que se trata, assessorar: dar uma ajuda, aconselhar, recomendar, auxiliar, assistir, enfim... nada que se confunda com "tomar as decisões". Essa função compete-lhes a eles, os chefes, e já diz o ditado "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele".

Se não querem ou não sabem tomar decisões não aceitem os cargos, porque se os aceitam têm que aceitar todas as responsabilidades inerentes. Exigir aos seus colaboradores que os auxiliem é legítimo, mas não podem exigir-lhes que tomem as decisões que competem às chefias.

E o que assisto actualmente é a uma desresponsabilização massiva por parte dos chefes. Eles não querem saber, não sabem e não se preocupam em aprender. Ficam à espera que outros resolvam os problemas, que tomem as decisões, que se cheguem à frente para dar a cara pelas organizações e acima de tudo, que não os perturbem porque são pessoas muito ocupadas e que têm assuntos pra lá de importantes para resolver.

E os colaboradores, daqueles que ainda vestem a camisola da empresa, desdobram-se em tarefas para resolver os problemas que os chefes não sabem e não querem resolver, porque é preciso dar andamento aos assuntos, prestar um bom serviço e acima de tudo proteger os que dependem das decisões a tomar, sejam eles os funcionários ou os clientes.

E quando tudo acaba em bem os chefes fazem uma festa, um verdadeiro brilharete, engalanam-se dos seus feitos como se tivessem sido eles próprios a tomar a decisão, colhem os louros e ficam com eles.

Mas ai dos colaboradores se a coisa correr mal, apontam-lhes o dedo, arrastam-nos em praça pública e passam-lhes um atestado de incompetência.

Sei do que falo, vivo isto diariamente. É triste, depois de tantos anos a trabalhar para uma Instituição de que muito me orgulho, deparar-me com chefes que não merecem os colaboradores que têm. E sinto-me incapaz, todos os dias me sinto incompetente. Vivo rodeada de chefes que não sabem decidir, que não dão orientações, que são incoerentes e inconstantes nas decisões. E acima de tudo, são muito mal formados. E não falo de formação académica, porque essa têm-na toda, todos os títulos académicos que possam existir, alguns estão no topo das carreiras. Falo daquela formação que nos é dada a partir do berço. E quando essa falha meus amigos, não há volta a dar. O carácter define o ser e isso diz tudo.

Mais triste ainda é olhar em volta, olhar para cima, para o topo da hierarquia, e aperceber-me que não tenho onde me socorrer. A minha instituição está minada de gente que não presta para mandar, que mandam mas não o sabem fazer, que ordenam mas não são líderes. Restam alguns da velha guarda que foram encostados numa prateleira, a fazer coisas menores apesar da vastíssima experiência que lhes é(era) reconhecida.

Nunca em tempo algum eu vi tantos funcionários desmotivados. Em todos os serviços, em cada departamento. Continuamos estoicamente a lutar por algo em que acreditamos mas as vergastadas vão deixando marca. Todos os dias nos questionamos se vale a pena. E chego à conclusão que a minha instituição só reflecte o estado do nosso país, numa escala menor: o desgoverno, os péssimos líderes que nós temos, os maus exemplos, os maus caracteres.

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